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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Idoso realiza sonho de ser escritor e lança primeiro livro aos 96 anos

Obra reúne poesias clássicas e foi lançada em junho, em Praia Grande.
Agora, Francisco Gonçalves Gameiro quer montar uma biografia.



Aos 96 anos e com uma invejável sabedoria, um mineiro natural da pequena Juruaia realizou o sonho de publicar o primeiro livro em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Oitavo filho de lavradores, Francisco Gonçalves Gameiro descobriu o seu dom de escrever poesia quando adulto, mas só conseguiu mostrar ao mundo seus textos na terceira idade. Após o primeiro livro lançado em junho, ele têm planos para o futuro e quer montar uma biografia.

Francisco aprendeu a escrever nas escolas rurais de Muzambinho, em Minas Gerais. Aos 22 anos, o idoso saiu do estado com destino a São Paulo, onde formou família e passou a trabalhar no mercado têxtil. Foi na Capital que ele descobriu o amor pela poesia. “Eu tinha uma caligrafia boa e, por isso, os patrões me pediam para fazer cartões. Algumas moças me pediam para eu fazer cartas para o namorado”, conta ele. Até que um dia uma delas passou a mandar poesias para Francisco e ele respondia. “Não tinha nada demais. Era uma festa de comemoração, com pessoas casadas, solteiras. E eu acabei tomando gosto. Gosto pela poesia”, explica ele.

Depois de se aposentar, Francisco mudou-se para Praia Grande. Com ele, carregou artigos e poemas de sua autoria. A leitura diária de jornais e livros se tornou o combustível para a montagem dos textos. “Eu tenho como professor do meu conhecimento, o meu português, a minha literatura, os jornais. Eu recorto muito artigos, leio e guardo”, conta. Aos poucos, as palavras saíram do papel e foram para o notebook. Francisco aprendeu a escrever com o teclado e passar sua inspiração para as telas do computador. “Eu acordo às 4h, vou para o computador e começa a vir uma frase. Depois vem outra e mais outra”, afirma. Assim, o idoso montou um arquivo cheio de artigos e poesias.

Em um encontro por acaso, o aposentado conheceu Celso Correa de Freitas, presidente da Casa do Poeta Brasileiro de Praia Grande, que conheceu as obras de Francisco. “Ele já tinha livros de brochura. Ele primeiro fazia as poesias, editava e tirava as cópias. Foi nesse momento que eu conheci as obras dele”, fala. A amizade se estendeu e Francisco passou a participar de rodas literárias e encontros de poetas. Todos ficavam admirados pela riqueza do vocabulário que ele utilizava em seus textos. Celso considera o amigo um especialista em sonetos. “Se a gente entende que a poesia é a arte de transmitir emoções e sentimentos por meio do som, da música, da palavra, ele exatamente faz isso. Ele usa da palavra para traduzir os sentimentos dele. Nessa questão do sentimento ele fala da família, da juventude, da vida em si e vai abrindo um leque de tudo aquilo que está em torno dele”, relata Celso.

Mesmo com o reconhecimento dos poetas de Praia Grande, Francisco ainda não tinha tido a possibilidade de fazer um livro apenas com as obras dele. Ele já tinha tentado com algumas editoras de Praia Grande, mas as edições ficaram mal elaboradas e Francisco estava desistindo da ideia. Depois de várias frustrações, uma das duas filhas dele preparou essa surpresa para o pai. “Ela pegou as poesias sem eu ver e tirou uma cópia. Ela leu, gostou, levou para uma editora e mostrou para eles. Sem me falar nada, ela chegou aqui com o livro. Ela sabia que eu estava indo atrás. Foi uma surpresa para mim. Ela trouxe para eu fazer a correção. E, quando o livro ficou pronto, ela veio trazer aqui 300 livros em três malas cheias!”, conta ele, empolgado.

O livro “Poeta do Coração” foi lançado oficialmente em junho de 2013, na biblioteca do Porto do Saber, da Prefeitura de Praia Grande, e já está registrado na Biblioteca Nacional. No dia do lançamento, ele autografou os livros, recebeu elogios de autoridades, amigos e outros poetas. Ao lembrar-se deste dia em que realizou um de seus sonhos, Francisco se emociona. “Fiquei emocionado. É uma obra que a gente fez com carinho. É o meu sentimento gravado nisso aqui. Cada poesia tem um sentimento”, confessa ele.

A obra é recheada de poesias que falam, de uma forma romântica, de diversos sentimentos, muitos vividos pelo autor. “Tudo é poesia clássica, da antiguidade. A poesia moderna hoje não tem rima. Eu fiz tudo isso aqui no que eu li de poesias”, diz Francisco.

Hoje, aos 96 anos, com 13 irmãos e mais de 70 sobrinhos, muitos que ele nem conhece, Francisco acredita que ainda tem bastante a transmitir para as novas gerações. Ele quer escrever uma biografia, contando um pouco do que viveu e o que viu da vida. Vontade não falta para isso. “Não vou ficar parado. Quero fazer uma biografia, mas vamos ver. Eu acho que não vou morrer tão cedo”, brinca ele. Ao ler um trecho do poema “Meus netos”, de sua autoria e um dos preferidos dele, Francisco se emociona novamente quando percebe que as palavras sempre traduzem seus sentimentos. “Enquanto eu viver quero ser guia; quando eu morrer, deixo-vos meu exemplo”, declama.



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